quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

despedida

Quem me vê caminhando tranquilamente pelas ruas
Não faz idéia do que se passa na minha mente
Olho cada casa, flor, borboleta
E vou me despedindo
Num sorriso
Num aceno
As pessoas não imaginam
Que pode ser meu último dia
Vestido branco
Cabelo recém pintado
Unha feita
Quero que me vejam solar
Mesmo em dia nublado
Já me despedi de todos
Mesmo que eles não saibam
Cada palavra era um adeus
Olho pro céu
Vejo somente nuvens
E o pensamento é não existir
Minhas gatas não saem de perto
Parecem adivinhar que meu destino
Sera o mesmo que o delas
Não as deixarei só
Irão comigo onde eu for
Nossa passagem já foi comprada
E esteve guardada
Numa gaveta desdo ano passado
Ah, já faz um ano?
Não, muito mais..
São 36 anos de agonia
Uma alma aflita
Atormentada
Consciente que esse mundo
Não lhe pertence
Que nada lhe cabe
Deixarei minhas dores
As mágoas
Todos os dedos que me foram apontados
O desamor
Abandono
Deixo também meus erros
Essa culpa que dilacera meu peito
Por ter sido uma péssima filha
Uma irmã
Uma amante
E uma mãe
Deixo esse mundo
Entregando-me a natureza
Este corpo cansado
Por fim, definhará
Alimentando o solo
Fertilizará
Germinará
Brotará
Águas
E finalmente renascerá rio

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