sábado, 4 de abril de 2015

Sozinha andava pelo jardim
Falava com as plantas
Cumprimentava as flores
Magrela e faceira 
É o que me disseram
Tinha uns 5 anos
Me lembro de vagos momentos
Rezas, benzimentos 
Tranças nos cabelos 
Algumas fotos antigas 
E uma tia avó de pele escura 
Eu nunca percebi minha cor
Preta, branca, parda?
Só o que tava na certidão 
Parda, como meus irmãos 
Mas eu não me parecia com eles
Nem com meu pai
Ou minha mãe 
A infância e a adolescência foram cruéis 
Gorda, feia, fedida 
Era o dia a dia
Me escondia junto com os rejeitados 
Mas o tempo, senhor de tudo
Colocou no meu caminho mulheres poderosas
Na hora e momento certo 
Uma delas me disse 
"Você é negra"
Depois a outra 
"Você é livre"
E a outra
"Você é filha de orixá"
Emponderada por elas e muitas outras 
Meus olhos se abriram 
Descobri o racismo, o machismo, a intolerância 
Que fui e ainda sou silenciada 
Polida
Negligenciada 
Mas agora tenho voz
E ela não se cala
Incomodo?
Sim. Mas a luta segue!
Sou negra, feminista e candomblecista
E ainda falo com as plantas, flores
Pois sei que faço parte da natureza como meu orixá!

2 comentários:

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